terça-feira, 3 de setembro de 2013

História Infantil para explorar trava-línguas e adivinhas

A Casa das Dez Furunfunfelhas

Lenice Gomes

Está vendo aquela casa cheia de fitas?
É a casa das dez Furunfunfelhas.
Nela tem uma placa:

“Esta casa está ladrilhada.
Quem a desladrilhará?
O desladrilhador.
Quem a desladrilhar bom desladrilhador será.”

As irmãs Furunfunfelhas, sempre muito animadas, gostam de se reunir numa grande roda na calçada e, assim, vão soltando seus nós da língua.
A primeira Furunfunfelha, muito senhora de si, fala:
- Fui ao cinema-nema-nema-nema,  ver um filme chato-chato-chato-chato. Era de cachorro-osso-osso-osso,  tinha carrapato-pato-pato-pato.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão nove Furunfunfelhas.
A segunda Furunfunfelha, com o nariz arrebitado, tropeça aqui, tropeça lá, brinca:
- A aranha arranha a rã, a rã arranha a aranha, a rã não arranha a aranha nem a aranha arranha a rã.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão oito Furunfunfelhas.
A terceira Furunfunfelha, se sacudindo de contente, melodia:
- Maria-mole é molenga. Se não é molenga, não é maria-mole. É coisa malemolente, nem mala, nem mola, nem Maria, nem mole.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão sete Furunfunfelhas.
A quarta Furunfunfelha, para lá de Chiquita Bacana, cantarola:
- Esta burra trota, trota, trota. A burra trota, trinca, a murta brota, brota a murta ao pé da porta.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão seis Furunfunfelhas.
A quinta Furunfunfelha, com ares de que tudo sabe, tagarela:
- Se cada um vai à casa de cada um, é porque cada um quer que cada um lá vá. Se cada um não fosse à casa de cada um, é porque cada um não queria que cada um fosse lá.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão cinco Furunfunfelhas.
A sexta Furunfunfelha, com sua saia rendada, poetiza:
- Alice disse que eu disse que o que ela disse era um poço de tolice. Mas eu disse que ela disse que eu disse o que ela disse. E quem fez o disse não disse foi a Dona Berenice.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão quatro Furunfunfelhas.
A sétima Furunfunfelha, magricela que só ela, anuncia:
- O princípio principal do príncipe principia principalmente no princípio principesco da princesa.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão três Furunfunfelhas.
A oitava Furunfunfelha, dando nozinhos no cabelo, fofoca:
- Maria é de Jaguamimbaba, mas seu marido é de Jaguamambi. Ela é boa cozinheira e sempre diz que farofa feita com farinha fofa faz uma fofoca feia.
Deu um tangolomango nela, não ficaram senão duas Furunfunfelhas.
A nona Furunfunfelha, com os olhos brilhantes, revela:
- Três bruxas olham para três relógios Swatch. Qual bruxa olha para qual relógio Swatch?
Essa Furunfunfelha era metida a gringa:
- Three witches watch three Swatch watches. Which witch watches which Swatch watch?
Deu um tangolomango nela, não ficou senão uma Furunfunfelha.
A décima Furunfunfelha, metida a elegante no seu salto fino, rima:
- No alto daquela serra está uma pega a papar a fava. A pega papa a fava para a fava não papar a pega.
Deu um tangolomango nela, não ficou nenhuma Furunfunfelha.
A rua ficou muda.
(...)
De repente, um menino em cima do telhado, de onde tudo observava, grita:
- Lá vem o velho Félix com o fole velho nas costas. Tanto fagulha o velho Félix. Como o fole do velho Félix fagulha.
O velho  Félix se desmancha em sorrisos! Ele vem acordar as dez Furunfunfelhas com seu fole. Todo mundo sabe que elas morrem de amores pelo Félix. E do fole fagulham adivinhas. A cada adivinha descoberta uma Furunfunfelha despertará.
- O que é, o que é... “Eu a vi viva, eu a vi morta, eu a vi correr depois de morta.” (A folha)
“Aqui estão muitas irmãs. Levam anos no mar e ainda não sabem nadar.” (A areia)
“Irmão e Irma são e jamais juntos estão. Quando ele vem, ela vai, e, se ela chega, ele sai.” (O dia e a noite)
E, com isso, acordam cinco Furunfunfelhas meio sonolentas. Entusiasmadas com o velho Félix, começam a dizer:
- “São três irmãs numa casa: uma foge sem querer, uma quer ir e não pode, outra fica até morrer”. (A fumaça, a labareda e a brasa)
“Seu botão ninguém aperta, seu perfume ninguém vende, sua cor não é pintura, sua beleza surpreende.” (A flor)
“Duas bolas coloridas carregam um brilho profundo. São como duas janelas mostrando a vida e o mundo.” (Os olhos)
“Brilha, mas não é jóia, bóia redonda e nua, cresce e desaparece, durante a noite flutua.” (A lua)
As outras cinco Furunfunfelhas vão acordando. E Félix, envolvido no jogo, recomeça a tocar o fole:
- “Umas vão e outras vêm. Debaixo do céu se mantém.” (As nuvens)
“Amarelo é meu centro, branca sou ao redor, me consultam os namorados, quando apareço na primavera.” (A margarida)
“Quando eu te vejo, me vês, quando me vês, eu te vejo e não aparento ser feio.” (O espelho)
“Somos sete e todas nós boa harmonia formamos. Os nossos nomes dependem do lugar que ocupamos.” (As notas musicais)
E, deixando o fole de lado, o velho Félix foi experimentar estes desenrolares tão conhecidos das dez irmãs:
- Era uma vez um cantador furunfunfor, triunfunfor, miserincuntor que foi à cantoria furunfunfaça, triunfufnfaça, miseruncunfaça e se enamorou por uma furunfunfelha, triunfunfelha, misteriofunfelha.
E elas olham uma para a outra e pensam: “será comigo ou com ela?”.
E as Furunfunfelhas vão cercando o velho Félix...
A quem o velho Félix vai dar o coração?
Deu um tangolomango nele, e perguntaram as dez irmãs:
- “O que é uma coisa que se quebra ao falar?” (O segredo ou o silêncio)
O velho Félix acorda e toma de novo seu fole. O menino no telhado aplaude aquela animação. E as Furunfunfelhas desatam as línguas:

- “Não sei se é fita, não sei se é fato, o fato é que o velho Félix nos fita mesmo de fato.”


# OBS - A história é ótima para fazer teatro.


Panfleto de divulgação para sessão de teatro: